Pode me chamar de piegas, mas algo vinha me incomodando nesses últimos tempos. Próximo as eleições muitos conhecidos tentam ficar em foco para arrecadar alguns votos. Os famosos sorrisos amarelos e a intimidade forçada. Quanto menor o espaço mais frequente essas ações.
Mas, voltemos ao início. O que significado reconhecer? Não quero o que tá escrito no Aurélio, quero o que aprendemos com as relações. Por que esse é um verbo cada vez mais difícil de ser conjugado?
Conhecer várias pessoas é muito fácil. Você pode sair todas as noites e em cada uma delas conseguir mais 10 ou 20 pessoas que incrementarão sua lista de amigos nas redes sociais. O complicado mesmo é reconhecer essas pessoas depois. Que atire a primeira pedra quem nunca perguntou no messenger: nos conhecemos de onde?
Quando eu morava em Guaranésia, odiava o fato de que todo mundo sabia tudo de todo mundo. As pessoas comentavam, aumentavam, ironizavam, enfim, transformavam a vida de um pessoa no capítulo mais tedioso da novela das 20h. Era difícil passar despercebido, mesmo aqueles que tentavam desesperadamente.
Com o passar dos anos em São Paulo acabei percebendo que aqui não é muito diferente, só é mais condensado. Você pode virar o assunto da vez no seu ambiente de trabalho ou na faculdade. O que te protege de certa forma é que depois dali ninguém mais te conhece.
O alvo desse texto é a questão das amizades aqui e por ae e do poder desse verbo no passar dos anos. Quando você cresce em um lugar pequeno, faz alguns bons amigos que acha que irão acompanhá-lo pela vida toda. Você reconhece neles qualidades que lhe faltam e enxerga defeitos que completam de um jeito torto sua personalidade.
Mas, esquece que independente do espaço geográfico, pessoas mudam. Elas crescem, deixam pra trás, seguem adiante. Elas começam a reconhecer em outras pessoas o que não mais enxergam em seu antigo grupo.
Em São Paulo as coisas são ainda mais complicadas. É fácil adquirir conhecidos em sua caminhada, agora amigos mesmo são poucos. E mesmo aqueles que você julga conhecer te surpreendem de certa forma. E um dia você deixa de reconhecê-los.
O resultado dessa equação é que poucas vezes você reconhecerá uma pessoa de verdade. Elas geralmente são cheias de nuances que passam despercebidas. Ou por vergonha, ou por comodismo, aquela velha conhecida que pregava o socialismo anárquico poderá se tornar uma periguete de boteco.
Aquela amiga de quinta a domingo na balada se tornará parte de um relacionamento hiper-mega-sério. O amigo de momentos importantes se dignará a ser uma mera mensagem de texto ou uma conversa inbox no facebook.
Obviamente a culpa não será somente dos que mudam escandalosamente, em algum momento você deixou de ser uma pessoa reconhecível para eles. Você também mudou, tornou-se conhecida. Alguém cuja afinidade alargou-se com o passar dos anos.
Ao chegar a essa conclusão, parei de me preocupar e apenas passei a aceitar os fatos. Seja aqui, lá ou em qualquer lugar, pessoas não se reconhecem por muito tempo. Como eu sei disso? Talvez pelas duzentas e tantas mensagens de parabéns recebidas de pessoas que nem sequer me reconheceram, quiçá conheceram enquanto a terra dos ipês amarelos era meu habitat natural.
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